quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

O último ato de um gênio

* ao som de Jorge Ben Jor

Ontem, ao se desligar do Vasco da Gama, Romário praticamente deu fim a sua polêmica e vitoriosa carreira como jogador de futebol. De quebra dá fim a sua curta e inexplicável carreira como técnico, de forma genial e geniosa como sempre foi Romário.

Romário é antí-tese do atleta profissional do atual futebol: cara da noite, do samba, jogador do pouco treino, entrevistas sinceras que fogem do clichê comum. Romário é a polêmica, a notícia.

Como jogador gênio da área, poucos jogadores tiveram tantos recursos técnicos em um espaço que hoje poucos dominam. Romário chutava de direita, chutava de esquerda, cabeceava, fazia gols de craque, gols de perna de pau.

Como atleta, nunca foi e nunca quis ser parâmetro, adepto da política "faça o que eu digo, não faça o que eu faço", se deu ao luxo de em toda a carreira curtir a vida. Talvez seja entre os gênios o que teve menos responsabilidade com sua atividade e seu grupo de trabalho, provavelmente seja o que mais tenha se divertido durante toda a carreira.

O atleta Romário foi perfeito? Não. Sempre que é citado o fato da amizade com Eurico Miranda, vem aquela frase "diga-me com quem andas e te direi quem és"... A reação contra Zico e Zagallo, ao retratá-los na porta do banheiro de um dos seus bares, o sopapo em Andrey e os sopapos em um torcedor do Fluminense, as discussões públicas com Pelé não são dignas de Romário. Lembrarão dos privilégios que teve nos últimos anos de Vasco, sendo chamado até de ex-jogador em atividade, irão lembrar dos 1000 gols tão questionados, contestados, recontados. Mas quem no Brasil, além de Romário e Pelé, tem uma lista de 1000 gols?

Há de se lembrar que um imortal, carrega consigo um sério problema: a pessoa física.

O homem que mistificou a camisa 10, e que ganhou o singelo apelido de atleta do século não pode ser questionado, Edson Arantes do Nascimento sim.
O camisa 10 da Argentina, única pessoa física a ganhar uma Copa do Mundo, não pode ser questionado, Diego Armando Maradona sim.
O homem que pintou "Mona Lisa", que pintou "A última ceia" não pode ser questionado. Leonardo di ser Piero da Vinci, é provável que tenha.
O homem que escreveu "Romeu e Julieta" e "Hamlet" não pode ser questionado. William Shakespare, é provável que tenha.
Zico, o 10 do Flamengo não pode ser questionado. Arthur Antunes Coimbra, talvez
Garrincha, não pode ser questionado. Manoel Francisco dos Santos, talvez tenha as suas ressalvas.

O "baixinho" chegou nesse patamar. Dentro de campo, Romário é, e será o maior centroavante que eu vi jogar na vida, um dos melhores atacantes da história não só do futebol brasileiro, do futebol mundial. Fora de campo, Romário será apenas o "de Souza Faria" o que honestamente, para mim, não faz muita diferença.

Ontem, ao peitar a interferência de Eurico Miranda, ao mostrar aos treinadores de verdade o que fazer quando há uma interferência no trabalho, Romário teve a plasticidade do elástico em Amaral, teve a genialidade do gol contra a Holanda em 94, ou dos inúmeros gols de "bico" que fez durante toda a carreira.

Certamente dirão que ele não parou "por cima", ledo engano. Romário saiu com um lance de craque e como sempre foi: genial e genioso. Escreveu a última linha do futebol romântico e deixa o livro para que outros escrevam a linha do profissionalismo.

A partir de hoje, o futebol torna-se mais chato, mais insosso, mais profissional. As entrevistas serão mais orquestradas, o jogador sempre trabalhará pelos três pontos, pelo melhor do time...

Com tamanha falta de centroavantes geniais, só me resta pedir algo:

"Apareça para bater uma bolinha quando quiser"...

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